São Paulo - Nos próximos meses começam a chegar ao Brasil os primeiros smartphones e tablets com processadores de quatro núcleos. Entre os smartphones que foram anunciados estão o Optimus 4X HD, da LG, e o One X, da HTC. A promessa é de que os novos smartphones respondam mais rápido ao toque do usuário na tela, suportem games com gráficos ainda mais complexos e carreguem páginas de web num piscar de olhos.

Os chips de quatro núcleos já existem há alguns anos em computadores de mesa. Mais recentemente, eles se tornaram uma das principais bandeiras dos fabricantes de smartphones e tablets durante a Consumer Electronics Show e o Mobile World Congress, dois dos principais eventos de tecnologia realizados no início de 2012.

Lançado no fim de 2011 nos EUA, Transformer Prime é o primeiro tablet com chip quad core | Foto: Reprodução
Lançado no fim de 2011 nos EUA, Transformer Prime é o primeiro tablet com chip quad core | Foto: Reprodução

“Em dispositivos móveis, o uso de chips com mais núcleos busca tanto melhor desempenho como uma maior autonomia de bateria”, diz Renato Franzin, especialista em engenharia de sistemas eletrônicos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. “Mas não é porque há quatro núcleos, em vez de dois, que o celular ficará duas vezes mais rápido”, observa.

Dividindo as tarefas

Chips com vários núcleos são melhores porque dividem o processamento de várias tarefas em pequenos pedaços. Como elas são executadas ao mesmo tempo, o dispositivo reduz o tempo para completar uma solicitação do usuário. Assim como em uma linha de montagem, em vez de uma pessoa (chip de um único núcleo) executar todas as etapas sozinha, várias pessoas (núcleos de um mesmo chip) assumem parte do trabalho.

Com a divisão de tarefas entre os núcleos, o chip trabalha menos para concluir uma tarefa complexa. Isso também ajuda o dispositivo a usar menor energia e, em tese, a bateria pode durar mais. No final das contas, ter um chip com mais núcleos permite que o dispositivo trabalhe mais rápido, gastando menos bateria. Contudo, o desempenho dos chips quad-core é afetado por outros aspectos.

O software importa (e muito)

Sem um sistema operacional preparado dividir suas tarefas entre os núcleos do processador (processo conhecido como multithreading), ter um dispositivo com chip dual-core ou quad-core não fará diferença. “Grande parte do poder de processamento desses novos chips não é aproveitado ainda porque os sistemas operacionais não estão preparados”, diz Franzin.

Tegra 3, da Nvidia, é baseado na arquitetura ARM A9 | Foto: Divulgação
Tegra 3, da Nvidia, é baseado na arquitetura ARM A9 | Foto: Divulgação

Franzin explica que, quando novas tecnologias de chips chegam ao mercado, os fabricantes de software levam algum tempo para se ajustar. No caso da maioria dos aparelhos quad-core que chegam agora ao mercado, diz Franzin, o Google deve liberar atualizações do Android nos próximos meses, que farão melhor uso dos recursos oferecidos pelos novos chips.

Em sistemas operacionais que ainda não estão ajustados para gerenciar chips de múltiplos núcleos, toda a carga de processamento continua sendo colocada sobre um único núcleo.

O mesmo acontece com os aplicativos, que os desenvolvedores terão de atualizar para tirar proveito dos chips com múltiplos núcleos. “Se o aplicativo não estiver ‘multithreaded’, o usuário não verá muita diferença”, diz Nick Stam, diretor de marketing técnico da NVidia.

Segundo os especialistas consultados pelo iG, muitos aplicativos ainda não estão preparados para funcionar em smartphones e tablets com chips dual-core e quad-core, com exceção dos games e dos navegadores de web. Como esses aplicativos trabalham com tarefas complexas, as grandes empresas de software já os atualizaram para funcionar nos novos aparelhos. “Os games online e a navegação em páginas de web se tornam muito mais rápidos em aparelhos com chips quad-core”, diz Stam.

A vida dura da bateria

No uso cotidiano do smartphone, chips quad-core podem ajudar o usuário a economizar uma parte da bateria. Como vários núcleos processam uma mesma tarefa, não é necessário que todos eles operem com força total. Ao operar com uma temperatura mais baixa, o dispositivo reduz o consumo de bateria. “Quando o chip esquenta mais, faz o consumo crescer também”, diz Franzin.

Contudo, se o usuário decide usar todo o poder do novo aparelho com games mais complexos, pode esperar um consumo de energia alto e a vida da bateria pode acabar mais cedo.

Cada chip é um chip

Praticamente todos os processadores em uso em smartphones atualmente são baseados nos designs vendidos pela empresa britânica ARM. Grandes fabricantes de chips, como NVidia, Qualcomm e Samsung, licenciam o conjunto de instruções necessárias e, a partir dele, criam seus processadores.

“É possível que um chip dual core apresente um desempenho similar a um quad core, se ele produzir menos calor”, diz Roberto Medeiros, diretor sênior de tecnologia da fabricante de chips Qualcomm no Brasil. Segundo ele, os chips da Qualcomm são baseados na arquitetura ARM, mas a empresa modificou o chip para melhorar o envelope térmico. Isso significa que o chip consegue manter sua temperatura mais baixa, o que evita constantes reduções de velocidade.

No caso do chip Tegra 3, da NVidia, o projeto foi baseado na arquitetura A9, da ARM. A empresa modificou o projeto do chip para que ele controle quantos núcleos são usados para executar uma tarefa. Outra mudança foi a inclusão de uma unidade de processamento separada para tarefas em segundo plano, como atualizações de aplicativos. Isso permite que essas atualizações não atrapalhem o desempenho do aparelho em outras tarefas mais complexas.

O que vem por aí

Ao contrário do que muitos usuários esperam, chips com oito ou mais núcleos não devem chegar ao mercado tão cedo. Isso porque o ganho de desempenho começa a diminuir em chips com maior número de núcleos. “Os fabricantes devem focar em melhorar o consumo de energia dos chips nas próximas versões”, diz Franzin.

Para Medeiros, da Qualcomm, os novos chips devem aumentar o desempenho por meio da redução do tamanho dos transistores e aperfeiçoamento dos circuitos elétricos. “Com os avanços, o processador poderá funcionar por mais tempo e com velocidade mais alta”, diz Medeiros.

A NVidia, por outro lado, afirma que os usuários ainda verão novos chips chegarem ao mercado com mais núcleos e com unidades de processamento gráfico (GPU) dedicadas a funções específicas dos dispositivos móveis. “O próximo chip que lançaremos terá desempenho 25 vezes maior que o Tegra 3, que está em diversos novos aparelhos com Android”, diz Stam.

As informações são da repórter Claudia Tozetto, do IG

Fonte: O DIA ONLINE